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Inhaltsangabe

A hora dos ruminantes - José J. Veiga

880 / ~2½ sternsternsternsternstern_0.2 Peter M. . 2017
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Inhaltsangabe
Literaturwissenschaft

UTFPR - Pato Branco

Rodrigo Xavier 2017

Peter M. ©
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ID# 69377







Mestranda: Tássia Silva Xavier


A HORA DOS RUMINANTES


A Hora dos Ruminantes do autor José J. Veiga, é um romance escrito em 1966, dois anos após o golpe militar de 1964, fato que é primordial para a compreensão do romance, pois na apreciação da obra o leitor irá se deparar com diversas simbologias e metáforas de situações que figuram o período de opressão vivida na época.

Assim, um dos temas principais da obra é a falta de liberdade, ou melhor, a liberdade vigiada do período ditatorial, no qual Veiga claramente critica não só o regime militar mas também o comportamento passivo da população brasileira, caracterizada na obra pelos habitantes de Manarairema.

Por este motivo, uma das possibilidades de análise do titulo da obra é a de que, no ato de ruminar, o autor estivesse estabelecendo uma associação dos habitantes da cidade fictícia do livro aos animais ruminantes, que são aqueles bichos quadrúpedes que remastigam um alimento que volta do estômago para a boca.

Outra possibilidade de análise do título, que também diz respeito ao verbo “ruminar” – metaforicamente empregado ao ato de “meditar, planear, cogitar” – é a de que o autor utilizou deste verbo justamente para sugerir ao leitor que refletisse com calma o momento que estavam vivenciando.

A obra que é dividida em três capítulos: A Chegada, o Dia dos Cachorros e o Dia dos Bois, se inicia com a ambientação da cidade de Manarairema e seus habitantes, que são surpreendidos por uma caravana que se instala do outro lado do rio da cidade, espaço desconhecido, e aparentemente de proibido acesso, uma vez que quando alguns personagens tentam contato para saber o motivo do acampamento, voltam diferentes e não falam de fato sobre o que aconteceu durante a visita.

Tal invasão demonstra imediatamente a primitividade da comunidade Manarairense que fica extremamente curiosa e ansiosa pelo contato com os “estrangeiros”, marca do insólito no romance. A ingenuidade perante o mistério gera medo e raiva, mas também admiração e respeito, o que mais tarde o tempo transformará em acomodação e indiferença.

Embora no Brasil da década de 1960 a terminologia ‘neo-realismo’ não fosse um consenso entre os críticos, parece que o romance de José J. Veiga se insere na estética que privilegia a estratégia de uma escrita cifrada, que se constrói pelo uso de uma linguagem alegórica e emblemática, propondo ao leitor o deciframento de enigmas. É o caso da presença dos cães no segundo capítulo.

Simbolicamente, os cães remetem a inúmeras imagens, dentre elas a de guardadores de um mundo intermédio, localizado entre o mundo dos vivos e dos mortos, como é o caso de Cérbero, ou a ideia que os cães são ligados ao mundo espiritual, como no Egito antigo. A representação dos cães em A Hora dos Ruminantes segue a ideia dos animais relacionados a um mundo misterioso, um animal que simboliza incerteza, desconfiança e, no romance em questão, a ideia de mundo espiritual é substituída pela ideia de mundo do medo.

Os cães espionam, cercam, escutam, observam, são animais mudos que tudo compreendem, subjugando os habitantes da cidadezinha a um sentimento misto de insegurança e simpatia, já que os cães também se associam aos homens numa relação de inicial confiança.

Já no terceiro capítulo, intitulado “O Dia dos bois”, uma terceira invasão se concretiza, desta vez por bois, e ainda mais intimidadora e surpreendente do que a anterior, visto que essa ocupação traz à cidade um número muito maior de animais, a ponto dos moradores ficarem enclausurados em suas residências, com escassez de água, comida e saneamento básico.

Ao mesmo tempo em que podem representar a truculência e a selvageria imposta pelo cerceamento da liberdade em tempos de regimes de exceção, os bois também remontam à ideia de um comportamento da massa, seu alheamento e alienação diante da realidade maquinada e imposta pelos “podres poderes”.

Os bois são tomados por J.J. Veiga no seu procedimento de escrita que recorre à zoomorfização como recurso alegórico que apresenta ao leitor uma cidade que inveja o novo, ainda que o desconheça, na esperança de que o cotidiano não continue os esmagando com a sua força entediante de um presente sempre mesmo.

Contudo, assim que uma resposta é apresentada, sai-se do fantástico e tende-se ao estranho ou ao maravilhoso e, por esse prisma, A hora dos ruminantes inclina-se ao maravilhoso, já que não há explicações para o aparecimento nem para o sumiço dos invasores – sejam eles os estrangeiros, os cães ou os bois.

Soma-se a isso o fato de que o próprio José J. Veiga não caracteriza as suas obras como fruto do gênero fantástico. Não há o estranhamento sobre o choque do que é diferente, mas o que se percebe é uma transformação social, pois apesar de ser uma invasão absurda de animais, a população de Manarairema encaram o dia seguinte, quando o fantástico vai embora junto com os bois e a vida volta ao normal, e “o relógio da igreja rangeu as engrenagens, bateu horas, lerdo, desregulado.



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