word image
Diploma thesis

Karl Jaspers: Die philosop­hische Glaubens­dimensio­n

35.543 Words / ~116 pages sternsternsternsternstern_0.5 Author Lukas S. in Jul. 2010
<
>
Download
Genre/category

Diploma thesis
Philosophy

University, School

Universidade Católica Portuguesa Lissabon

Grade, Teacher, Year

2009/2010 Prof. Dr. Carlos Morujão

Author / Copyright
Lukas S. ©
Metadata
Price 14.00
Format: pdf
Size: 0.67 Mb
Without copy protection
Rating
sternsternsternsternstern_0.5
ID# 1764







UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

KARL JASPERS A FÉ FILOSÓFICA


Projecto apresentado à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de mestre em Fenomenologia e Filosofia da Religião

Faculdade de Ciências Humanas


Primeira Conferência

O conceito de fé filosófica

Qual é a fonte, qual é a finalidade da vida humana? Responder-se-á porventura: a fé na revelação, já que,fora desta, apenasexiste o niilismo. Um teólogo disse recentemente: «A questão decisiva ‘só Cristo ou niilismo’ nãoé uma presunção eclesiástica.» - Se assim fosse,por um lado, não havia filosofia, mas sim, apenas uma história da filosofia como história da incredulidade, isto é, o caminho pelo niilismo, e, por outro lado, um sistemaconceptual ao serviço da teologia.

A própria filosofia seria, por assim dizer, privada do seu coração, como foio caso na atmosfera teológica. Mesmo quando nesse ambientenasceram obras de arte do pensamento bem elaboradas conceptualmente, estasviviam, no seu ambiente, da estranha, não filosófica, fonte da religião eclesiástica, enquanto, por princípio, não foram levadas a sério como filosofia, pois apenas lhes era reconhecida uma autonomia aparente.

   Pode dar-se talvez uma outra resposta ànossa primeira questão: o que inspira a nossa vida é o intelecto humano, as ciências, que nos mostram neste mundo fins razoáveis e que nos ensinam quais os meios para alcançá-los. Pois, fora das ciências, existem apenas ilusões. A filosofia carece de direito próprio, já que,passo a passo, desprendeu-sede todas as ciências, e, por último, dalógica também - que passou a ser uma ciência autónoma.

Agora já nada sobra. – Se esta concepção fosse verdadeira, nem sempre haveria filosofia. Antigamente, a filosofia foi um caminho para as ciências. Agorapode, quando muito, levar uma existência miserável, inútil, como serva das ciências – como por exemplo, a teoria do conhecimento.

   Ora bem, ambas as concepções de filosofia parecem estar totalmente em contradição com o conteúdo dos três milénios da sua manifestação na China, Índia e no Ocidente. Elas contrariam o rigor com o qual filosofamos actualmente, hoje, que a filosofia deixou de existir como serva das ciências, tal como no fim do séc. XIX, e não voltou à posição de serva perante a teologia.


   Mas essas alternativas irreflectidas de fé na revelação ou niilismo, de ciência total ou ilusão, são apenas meios de luta para assustar as almas, para privá-las da sua auto-responsabilidade, que Deus lhes doou, e torná-las submissas. Elas decompõem as possibilidades humanas em antagonismos, no seio dos quais está ausente o autêntico ser humano.

   Mas quem tentafilosofar em concordância com a venerável tradição, delese afirmará, sem dúvida, em consequência dessas alternativas, que tem que ser niilista ou ilusionista. E, se não correspondermos à imagem pressuposta, seremos, pois, repreendidos: imperfeição, inconsequência, iluminismo trivial, ingenuidade. E isso por ambas as partes, tanto pela fé exclusiva na revelação, como pela ciência convertida em superstição.

   Por outro lado, filosofando, arriscamos a manter aberto o nosso ser. A filosofia, hoje mais do que nunca, não deve abdicar.

   Vivemos conscientes de perigos que os séculos passados desconheciam: a comunicação com a humanidade através dos milénios pode romper-se; podemos privar-nos inusitadamente da tradição; pode diminuir-se a consciência; pode suprimir-se o carácter público da relação comunicativa. Filosofando, temos que nos preparar para tudo, perante as ameaças aniquiladoras, com o objectivo de, com o pensamento,contribuir para que o ser humano preserve as suas supremas possibilidades.

Justamente, devido à catástrofe do Ocidente, o filosofar voltará a ter consciência de toda a sua independência, ao encontrar a concordância com a origem própria do ser humano.

   A fé filosófica, o fundamento desse nosso pensamento, é o nosso tema. É um tema ilimitado. Para tornar evidente os elementos simples, divido o .....[read full text]

Download Karl Jaspers: Die philosop­hische Glaubens­dimensio­n
• Click on download for the complete and text
• This is a sharing plattform for papers
Upload your paper and receive this one for free
• Or you can buy simply this text
This paragraph is not visible in the preview.
Please downloadthe paper.

Esse jogo foi possível enquanto ainda luziam, efectivamente, os conteúdos de uma grande tradição, cada vez mais fracos. Foi o fim do espírito, quando este se fundou conscientemente no irracional. Atacando inutilmente tudo, obstinando-se em conteúdos justamente desejados e considerados eficientes, desperdiçando a tradição, através da falta de seriedade de uma liberdade aparentemente superior e na patética do falível, esfumou-se como um fogo-de-artifício.

Todo esse plano de formas de falar não se pode combater – pois não há adversário, mas uma diversidade turva que varia proteicamente e que, de modo nenhum,se agarra, devido àfalta total de memória -apenas se vence com base na claridade.

   No fundo, a nossa fé não pode ser algo meramente negativo, o irracional não pode precipitar-se no escuro, contrário ao intelecto e como algo que não tem lei.

   A fé filosófica, a fé do homem que pensa, tem sempre como característicasó existirem aliança com o saber. Quer saber o que é susceptível de ser conhecido e ver-se a si mesmocompletamente.

   O conhecimento ilimitado, a ciência, é o elemento fundamental do filosofar. Nada pode haver que não se possa interrogar, nenhum mistério pode estar encoberto à investigação, nada élícito esconder de baixo de um véu. Mas, graças à crítica, ganha-se a pureza, o sentido e os limites do conhecimento. Quem filosofa pode proteger-se contra as intrusões de um pseudo-saber, contra os extravios das ciências.

   A fé filosófica quer, imediatamente, tornar-se clara para si mesma. Filosofando, nada aceito simplesmente, sem o penetrar totalmente, como se impõe a mim. A fé não pode tornar-se saber de validade universal, mas deve tornar-se presente por meio da convicção. E deve incessantemente ser mais clara, mais consciente, e ser posta cada vez mais de acordocom a consciência.

    O quê significa, então, a fé?

Nela são inseparáveis a fé, na base da qual estou convencido, e o conteúdo da fé que compreendo – a fé que realizamos e a fé de que nos apropriamos ao realizá-la – fides qua creditur e fides quae creditur. O lado subjectivo e o objectivo da fé são um todo. Se me limito a tomar o lado subjectivo, a fé torna-se em credulidade, em fé sem objecto, que é como se apenas cresse em si mesma, a fé sem a essencialidade do conteúdo da fé.

Se me limito apenas ao lado objectivo, um conteúdo de fé cai em objecto, como proposição, dogma, um estado, uma coisa morta.  

    Daí que a fé seja sempre fé em algo. Mas nem posso dizer que seja uma verdade objectiva que não esteja determinada pela fé, mas pelo contrário, sou eu que a  determino; nem tão-pouco posso dizer que seja uma verdade subjectiva que não esteja determinada pelo objecto, pelo contrário, eu determino-a. A fé é uma unidade que separamos como sujeito e objecto, como fé, a base do que cremos e, como fé, no que cremos.

   Em consequência, ao falar da fé, teremos que terpresente aquilo que abarca o sujeito e o objecto. Aí radica toda a dificuldade, quando queremos falar do conceito de fé.

   Neste ponto, há que lembrar a grande teoria de Kant, que tem os seus precursores na história da filosofia ocidental e asiática. A ideia que lhe serve de base tinha que aparecer em todas as partes onde se filosofou, mas só com Kant essa ideia consciente de si mesma e metodicamente executada – também ele umafigura histórica, ainda que para sempre pelos seus rasgos fundamentais - tornou-seum elemento do esclarecimento filosófico. É a ideia do fenoménico da nossa existência, na cisão sujeito – objecto, submetida ao espaço e ao tempo como formas daintuição, a categorias como formas de pensamento. Seja o que for, o Sertem que fazer-se objectivo nessas formas, tornando-se, por consequência, fenómeno; sendo, assim, para nós, tal como nós o sabemos, e não sendo para nós o que é em si.

O Ser nem é o objecto que está ànossa frente em percepção ou p.....

This paragraph is not visible in the preview.
Please downloadthe paper.

   Daí que a fé filosófica deve, partindo da situação histórica,buscar sempre de novo a origem.  Não se dá trégua em nenhum estado. Segue sendo a temeridade de estar aberto radicalmente a tudo. Não pode invocar-se a si mesma como se fosse algo inapelável, pelo contrário, tem que manifestar-se na forma do pensar e da fundamentação.

Já no “pathos” da afirmação indispensável, que soa como uma proclamação, estamos filosoficamente em perigo de nos perdermos.

   Mas o universal da verdadeirafé não deve esboçar-se com um conteúdo de validade universal, nem tomar-se como imediação, nem fixar-se como estado histórico, mas produzir-se certo somente historicamente através de movimento temporal. Mas isso sucede no ambiente do englobante, que nem é só objecto, nem só sujeito. O presente da aparição histórica abrange as fontes de toda a fé.

   Para alcançar o conceito de fé é preciso aclarar o englobante. Aespontaneidade do englobante, obtida sempre por mediação, sempre nova, tem, na sua presença última, vários modos. O englobante, tal como nós o clarificamos, mostra-se como uma pluralidade, os modos do englobante.  Eu utilizo – como resultado da nossa tradição filosófica – um esquema que agora somente posso apresentar sucintamente (peço-lhes que por um momento intentemcomigo o aparentemente impossível: transcender, com o único pensamento objectivo possível para nós, esse mesmo pensamento, com os meios do pensamento objectivo ir mais além da objectividade, fazer algo sem o qual não há realmente filosofia,contudo algo que aqui só mostro num simples esquema).

   O englobante é: ou bem o ser em si, que nos rodeia, ou bemo ser que nóssomos.

   O ser que nos rodeia, chama-se mundo e transcendência

   O ser que nós somos, chama-se sujeito vital, consciência em geral, espírito, chama-se existência.

1.      O ser que nos rodeia – Este ser, que é mesmo sem que nós sejamos, e que nos rodeiasem que nós o sejamos, é de duas formas: -  é o mundo, ou seja: o ser do qual um lado da nossa essência é parte diminuta, se o mundo como um todo nos engloba como não-ser-em-nós;é a transcendência, ou seja, o ser que é simplesmente o diferente de nós, aquilo de que não participamos, mas em que assentamos e a que nos referimos.

a) Mundo: o mundo na sua totalidade não é um objecto, mas uma ideia. O que reconhecemos, está n.....

This paragraph is not visible in the preview.
Please downloadthe paper.

c) Somos espírito: a vida espiritual é a vida das ideias. As ideias – por exemplo, as ideias práticas de profissões e detarefas para a nossa realização, as ideias teóricas de mundo, alma, vida, etc. – conduzem-nos, e certamente sob a forma de impulsos que existem em nós, comotracção da totalidade de sentido que há na coisa, como método sistemático de penetração, de apropriação e de realização.

As ideias não são objectos, mas aparecem em esquemas e figuras. Actuam no presente e, ao  mesmotempo, são tarefas infinitas.

   Esses três modos do englobante – sujeito vital, consciência em geral, espírito – são os modos em que nós somos mundo; isto é, que na objectivação desse englobante em algo objectivo, nos manifestamosempiricamente, de modo adequado, como objecto de investigação da biologia e da psicologia, da sociologia e da ciência do espírito. Mas com isso nãose esgota o nosso ser.

d)  Nós somos existência possível: Vivemos a partir de uma origem que se encontra porcima da existência que se torna empiricamente objectiva, por cimada consciênciaem geral e porcima do espírito. Esta nossa essência manifesta-se: 1º na insuficiência que o homem experimenta em si, pois existe nele uma constante inadequação à sua existência, ao seu saber, ao seu mundo espiritual; 2º no absoluto, ao qual se submete o sujeito vital como o seu próprio ser verdadeiro, ou ao que lhe é dito de forma compreensível e válida; 3º no incessante impulsoao uno, pois o homem não se por satisfeito com um único modo do englobante por si, nem com todos eles, mas sentea vontade da unidadede fundo, pois só ela é o ser e a eternidade; 4º na consciência de uma reminiscência inconcebível, como se tivesse uma consciência da criação (Schelling) ou como se pudesse acordar de algo visto como anterior a todo o ser-mundo (Platão); 5º na consciência daimortalidade, que não é sobrevivência noutra forma, mas um estar alojado na eternidade, anuladora do tempo, que se lhe aparece como o caminho para seguir actuando incessantemente no tempo.

   O englobante, o que eu sou, é em toda a forma uma polarid.....

This paragraph is not visible in the preview.
Please downloadthe paper.

Tudo é como aparência. Sentem-se como mortos, como fantasmas, que não vivem e – em certos estados graves de loucura – crêem que têm que viver eternamente esse estado de não-viver. Chamam-se a si mesmos comparsas ou usam outras palavras alusivas à irrealidade. O cogito ergo sum de Descartes é certamente um acto de pensamento, mas não pode impor a efectividade da consciência da realidade.

   A título da consciênciaem geral sinto a validade do justo. Esta evidência é o que se impõe. Em cada caso isolado, sinto a imposição do não-cabe-outra-possibilidade que reconhece que isto é justo ou injusto. Mas essa evidência em si é algo imediato, insuperável.

   A título de espírito estou cheio de ideias, mediante as quais capto a ideia que me aparece. O desintegrante no intelecto mantém-se unido em qualquer momento, tornando-se movimento espiritual. Quando as ideias desaparecem, o mundo desfaz-se nas infinitudes dos objectos dispersos.

   A título de existência eu sou, enquanto sei ser doado pela transcendência. Não fico sozinho na minha decisão. Mas o ser-por-mim é por mim um ser doado, na minha liberdade.  Não será possível doar-me a mim próprio por vontade alguma.

   Assim, chamamosà fé em sentido mais amplo, a certeza de realidade, evidência, ideia. Enquanto realidade empírica, é algo instintivo, enquanto consciência em geral certeza, enquanto espírito, convicção. Mais propriamente, a fé é o acto da existência em que seadquire consciência da transcendência na sua realidade.

   Fé é a vida a partir do englobante, é a orientação e a realização pelo englobante.

   A fé a partir do englobante é livre porque não está fixa num finito absolutizado. Tem o carácter do flutuante (nomeadamente com referência à predicabilidade– não sei se acredito nem o que acredito) – e, ao mesmo tempo, do absoluto (na prática da actividade e descanso provenientes da resolução).

   Falar dela, requer a operação filosófica fundamental de convencer-se do englobante, atravessando toda a objectividade no pensamento que inevitavelmente seguirá sendo sempre objectivo, isto é: na prisão do nosso ser que aparece na cisão de sujeito-objecto, escapar desta prisão, ainda que sem poder entrar realmente no espaço que existe fora.

   Existe algo em nós que se rebela contra esta operação fundamental e, por conseguinte, contra o pensar filosófico. Queremos sempre algo palpável. Daí que tomemos erroneamente o pensar filosófico como um conhecimento objectivo. Como um gato nas suas quatro patas, também nós voltamos a cair sempre na .....

This paragraph is not visible in the preview.
Please downloadthe paper.

   A fé filosófica tem, em si mesma, estruturas de tais dialécticas.

   Tal como são inseparáveis o ser e o nada, estando ambos misturados, e se repelem de novo entre si até ao extremo, assim são inseparáveis a fé e a incredulidade, para depois se repelirem apaixonadamente.

   Os contrastes da realidade empírica do espírito e do mundo reconciliam-se numa visão total harmónica, que infringe pela rebelião da existência contra essa falsidade.

   A fé recua a um mínimo quando, junto à fronteira da incredulidade, salta domínimo ao amplo: assim posso segurar-me ao eu que se torna vazio – no cogito ergo sum -,  no orgulho de manter a integridade íntima: si fractus illabatur orbis, impavidum ferient ruinae -, na óptica rígida da contemplação: assim é, - na condenação esmagadora do mundo (« devolvo o meu bilhete de entrada»).

Engano-me cada vez, como se ainda existisse, enquanto quero ser nada, como se ainda pudesse existir fora das condições da finitude do mundo. A partir da experiência do nada,   diante da experiência limite, estou com confiança, crendo de novo, na amplitude, esclarecido por todos os modos do abarcante, que sou eu e  emque me descubro.

   A fé filosófica passa certamente através do nada, mas não cresce sem um terreno que a sustente. Não começa de novo se é originária. Porquê crês tu? – Porque o meu pai me disse para acreditar. Esta resposta de Kierkegaard vale também, mutatis mutandis,   para ofilosofar.

   A fé filosóficafixa-se na tradição. Se bem que esta fé somente esteja no autopensar  de cada indivíduo, faltando-lhe a segurança objectiva de uma instituição; ela é o que fica, quando tudo se desvanece, e que se torna um nada quando se quer conceber como um apoio no mundo. Mas a sua presença adquire-se, em cada momento, sempre que se volta a si própria por intermédio da tradição.

Daí que a filosofiaesteja determinada pela sua história e que, em cada momento, a história da filosofia resulte comoum todo necessário ao filosofar, tal .....

This paragraph is not visible in the preview.
Please downloadthe paper.

Swap your papers