UNIVERSIDADE
FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO
DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO
DE POLÍTICA, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
Disciplina: Fundamentos da língua
brasileira de sinais
Aluno: Marcelo Durão Rodrigues da Cunha
Resenha
crítica referente ao segundo capítulo do livro: GESSER, A. . LIBRAS? Que
língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da
realidade surda. 1a. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
Capítulo
2: ‘O Surdo’
A
autoria Audrei Gesser possui como objetivo geral na obra apresentar algumas
questões relativas à surdez, num momento oportuno e particularmente pertinente,
quando decisões políticas têm propiciado um olhar diferenciado para as minorias
linguísticas no Brasil. Os discursos sobre o surdo, a língua de sinais e a
surdez "abrem-se" para dois mundos desconhecidos entre si: o do surdo
em relação ao mundo ouvinte e o do ouvinte em relação ao mundo surdo.
E
é justamente no segundo capítulo de sua obra que a autora buscará desmistificar
pontos há muito arraigados no senso comum a respeito da figura do surdo e suas
necessidades perante a sociedade falante.
O
primeiro ponto abordado está exatamente na forma como se deveria abordar uma
pessoa surda, quais os pressupostos para buscar agir de maneira coerente, sem constrangimentos
ao interlocutor ou ao sujeito dito ‘deficiente’. Gesser desmitifica o chamado
politicamente correto a partir de concepções e consensos que levam em
consideração a opinião dos próprios surdos. A construção da imagem de
dependente acaba por insurgir em formas pejorativas de tratamento que não levam
em conta quesitos bastante relativos, como o fato de todos possuírem algum tipo
de deficiência.
Após
a discussão de tal problemática, nos são apresentados outros aspectos
relevantes à inserção do surdo no corpo social. A autora menciona, por exemplo,
o importante papel dos intérpretes e de sua formação adequada como
interlocutores de uma língua que necessita ser mais bem compreendida. Também
vem a tona, mitos relacionados à cultura surda, como o questionamento ao fato
dos surdos viverem em um silêncio absoluto, menção desconstruída pela autora a
partir da conceituação de silêncio e barulho em diferentes culturas.
Os
preconceitos inculcados na sociedade falante continuam sendo tema de extenso
debate quando Gesser menciona o mito da oralização como suposto pressuposto à
inclusão social dos surdos. Realizando eficiente apanhado histórico, são
apresentados diversos pontos de vista relacionados a essa temática, sendo a
necessidade de ceder a oportunidade de contato com a língua sinais, um
importante passo para a participação de pessoas surdas nos processos de luta
por seus direitos.
Ao
mencionar a existência de uma especificidade identitária e cultural surdas, a
autora amplia o debate de forma considerável. O fato de haver diversas culturas
surdas seria o primeiro problema relevante a se observar, pois assim como na
sociedade oral diversidade e pluralidade culturais são louváveis e dignas de
análise, sendo que o mesmo ocorreria em ambientes sociais de indivíduos com
surdez.
Essa
visão plural caracterizaria importante afirmação coletiva de um grupo
minoritário, dadas as condições adversas e a impossibilidade de derrubar
maneiras preconceituosas de conceber a surdez na sociedade contemporânea. O
papel do surdo seria o de proliferar sua cultura e lutar contra discursos homogeneizantes
que buscam desconsiderar a riqueza de uma identidade tão bem representada
principalmente em sua manifestação lingüística.
Gesser
realiza um estudo sobre cognição e pedagogia na cultura surda como mais um
artifício na desmistificação de pré-concepções acerca destes indivíduos. As
dificuldades na escrita são apresentadas como exemplo de um desafio a ser
vencido, sem, todavia serem estabelecidas impossibilidades ou atribuições de
incompetência ao sujeito surdo nesta esfera do saber.
Os
surdos são capazes de aprender a escrita do português assim como o contato com
a língua de sinais de forma alguma atrapalha a aprendizagem da língua oral,
estando as ações negativas quanto ao uso da língua de sinais atrelados aos
seguidores de uma antiquada filosofia oralista.
A
autora finaliza a análise destes aspectos, atacando discursos em prol do
chamado monolinguismo, onde são descartadas a diferença e a heterogeneidade
lingüísticas, relegando os sinais a um plano secundário.
O
direito de usar a língua de sinais está ligado a uma questão de cidadania, pois
é a principal forma pela qual o surdo possui acesso ao conhecimento de mundo e
à constituição e o fortalecimento da identidade cultural surda outrora
mencionada.
Como
último ponto abordado pela autora, faz-se menção a leitura labial e a falsa
idéia de que todos os surdos possuem tal habilidade. Como mais um mito ligado
ao oralismo, Gesser o desconstrói e reitera a necessidade de aprendizado da
língua de sinais como principal meio de interação e compreensão de cultura e
identidade surdas.